O mês de junho é sempre o mais querido pelo povo sertanejo do nordeste brasileiro. É a estação da colheita de feijão, milho e arroz, e quando as temperaturas quentes se tornam amenas. Por aqui só existe sol e chuva, nada de quatro estações. Porém o mês de junho é primaveril, cheio de flores e frutas.
Em junho são celebrados Santo Antonio, São João e São Pedro com novenas, fogueiras, danças, fogos e festas. Cidades como Campina Grande e Patos, na Paraíba, Caruaru e Arcoverde, em Pernambuco, atraem milhares de pessoas para festejos monumentais, que só existem mesmo no Nordeste.
As estações de sol e chuva são bem diferentes no sertão e na zona da mata. No litoral da Paraíba, Alagoas e Pernambuco chove forte em junho, julho e agosto, meses da primavera sertaneja. As grandes enchentes dos rios, que corriam por antigas florestas atlânticas, acontecem nesses meses.
O poeta pernambucano Ascenso Ferreira escreveu:
Dos engenhos de minha terra
Só os nomes fazem sonhar:
Esperança!
Estrela d'Alva!
Flor do Bosque!
Bom-Mirar! Dos rios da Zona da Mata de Pernambuco, nem os nomes fazem sonhar: Capibaribe, Beberibe, Capibaribe-mirim, Goiana, Ipojuca, Siriji, Tracunhaém, Una... Todos desprovidos da floresta ciliar original, eles correm por margens áridas, plantadas de casas pobres, em meio à absoluta monocultura da cana. Da floresta atlântica que os descobridores avistaram das caravelas restam escassos três por cento.
De um outro poeta pernambucano, Manuel Bandeira, a Evocação do Recife:
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu... Porém já não existe cheia como ainda existia no tempo de Ascenso Ferreira e Manuel Bandeira, mas grandes enxurradas, tsunamis fluviais que arrasam cidades, matando e destruindo o que encontram pela frente. As causas são as mesmas no nordeste, sul e sudeste do Brasil: a devastação de florestas, o extermínio de matas ciliares, a erosão das margens ribeirinhas e assoreamento dos rios. Tudo o que estamos cansados de ler nos jornais, ouvir nos rádios, ver nas televisões, estudar nas escolas e ensinar aos nossos filhos.
Tudo o que continua sendo feito criminosamente em nome do lucro, para se produzir mais álcool e carros que consomem álcool. A extensa floresta transformou-se em pequenos fragmentos que sobrevivem nas terras imprestáveis para o cultivo da cana. Não estão ali por generosidade dos donos da terra ou por consciência ambiental.
E no mês de junho, quando todos sonham com fartura e festa, nem os poderes da Trindade Junina conseguem conter o furor das águas. Em Alagoas e Pernambuco, estados que já formaram um único território até a revolução pernambucana de 1817, as imagens das cidades ribeirinhas é a de um novo Haiti. Sim, o Haiti é aqui.
Não venham políticos do passado, velhas raposas que nunca desmontam do poder, fazer da destruição campanha eleitoreira, apontando culpados. Também eles tiveram a vez de prevenir essas catástrofes e nada fizeram. Também eles plantaram esse Haiti.
Ronaldo Correia de Brito Do Recife (PE)
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Pernambuco e Alagoas: o Haiti é aqui
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