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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Na capital do jeans, desemprego zero


Fonte: Angela Lacerda - O Estado de S.Paulo

Cleisse, Cosme, Amara, Wedja, Daniel, Jae Ho Lee, Natália, Priscila, Eriky, Paulo, Niedja são novos moradores de Toritama, no agreste setentrional, a 173 quilômetros do Recife. Atraídos pelo mercado de trabalho local, eles são microempresários, vendedores e prestadores de serviços que engrossam o contingente de pessoas responsáveis por um dado constatado na última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): município com menor território do Estado - 34,6 metros quadrados -, Toritama teve o maior aumento populacional no período de 2000 a 2010.

De 21.800 habitantes, em 2000, pulou para 35.631, em 2010 - um aumento de 63,4%.

O pleno emprego explica a migração de mão de obra de outros municípios de Pernambuco e de outros Estados brasileiros para a cidade batizada de "capital do jeans". Responsável por 16% da produção de jeans do País, Toritama possui, de acordo com a prefeitura, 2.500 fábricas de confecção - a maioria doméstica - que geram 25 mil empregos diretos e produzem cerca de 60 milhões de peças em jeans por ano.

O Produto Interno Bruto (PIB) não é expressivo em termos absolutos (R$122,9 milhões em 2007), mas de 1999 a 2007 foi o município do agreste que mais subiu no ranking estadual - escalou 25 posições, saindo do 79.º lugar em 1999 para o 54.º em 2007.

O município é fonte de emprego em um raio de até 150 quilômetros, o que também o faz ter uma população flutuante - formada por pessoas que diariamente se deslocam de municípios vizinhos para trabalhar em Toritama - pelo menos duas vezes maior que sua população fixa, segundo estimativa do secretário municipal de Indústria e Comércio, Niéliton Martins.

"O desemprego aqui é zero", assegura o prefeito Flávio de Souza Lima (DEM), entusiasmado com o início da concretização de um de seus sonhos, o projeto Rua do Jeans, que engloba a construção de três ruas cobertas no entorno do Parque das Feiras. Situado à margem da BR-104, o parque abriga cerca de 700 boxes e lojas e funciona como uma vitrine do que é fabricado e comercializado no município.

O prefeito se inspirou em projeto que viu e aprovou em Santo André, São Paulo, e prevê que em abril do próximo ano, sua cidade já contará com um espaço com mais requinte e conforto.

O crescimento físico de Toritama tem ocorrido em função da rápida expansão dos negócios, mas sem maior planejamento urbano. A obra está sendo realizada com recursos próprios.

A duplicação da BR-104, em andamento, no trecho de 40 quilômetros que liga Caruaru - polo regional - a Toritama, vai facilitar o acesso e abre ainda mais as perspectivas de futuro. Na visão do prefeito, o município é caracterizado pelo espírito empreendedor do seu povo.

Sustentabilidade. Ainda marcadA pela informalidade, Toritama tem buscado se preparar para atender às exigências de qualidade e sustentabilidade do mercado. O secretário de Indústria e Comércio lembra que, até cinco anos atrás, a cor do Rio Capibaribe, que margeia a cidade, mudava de acordo com a tendência da moda. As lavanderias- na época, cerca de 100 - jogavam a água usada para beneficiamento do jeans diretamente nos rios. Cada calça de jeans utiliza entre 70 a 90 litros de água. Em uma região semiárida, a poluição se tornava ainda mais escandalosa.

Hoje, são 56 lavanderias, todas formalizadas, que reciclam 60% da água utilizada - toda adquirida em carros pipas - e a tratam antes de lançá-la ao Capibaribe. Quatro vezes no ano, é feita análise de amostra da água do rio, sob a supervisão da companhia de controle do meio ambiente estadual (CPRH).

"Todos saíram ganhando", diz Niéliton Martins, ele próprio dono de uma confecção e de uma lavanderia e incluído, assim como o prefeito, nos 93% da população economicamente ativa de Toritama envolvida com confecção.

Novos moradores. A presença, mesmo que discreta, de coreanos em Toritama é tida como indício do poder de atração da sua economia. Eles chamaram a atenção da população ao abrir lojas de aviamento e de "strass" no centro da cidade. Eriky Jang, 37 anos, disse ter vindo de São Paulo com os pais depois que um amigo lhe deu a dica do município pernambucano. Jae Ho Lee, 64 anos, que trabalha há dois anos com o mesmo produto na cidade, queixou-se da concorrência de brasileiros e coreanos, que vendem produtos similares e provocaram redução no seu lucro. "Ano passado foi bom, este ano caiu", reclamou.

Luiz Carlos da Silva, 47 anos, era cortador de cana em Porto Calvo (AL). Desempregado, há um ano mudou-se para Toritama com a mulher e dois dos filhos. O primeiro emprego na cidade foi como costureiro de uma fabriqueta de jeans. Atualmente, é porteiro da lavanderia Nova Aliança. "Aqui só não trabalha se não quiser."

Cleisse Almeida mudou-se há seis anos da cidade de Olinda, vizinha ao Recife, acompanhando o marido pedreiro. Já trabalhou em padaria, mercadinho e hoje é vendedora de uma loja de confecção. Está satisfeita.

Já as irmãs Rosângela e Rose Maria do Nascimento e Natália Alves de Araújo fazem parte da população flutuante de Toritama. Diariamente, as duas primeiras viajam de Santa Maria do Cambucá, onde moram, para trabalhar na capital do jeans. Natália vem de Vertentes.

Os empreendedores investem e arriscam. Os trabalhadores informais ganham por produção. Grande parte dos contratados recebe em torno do salário mínimo. De acordo com o Sebrae, a média salarial da cidade é de R$ 700. Em contrapartida, a classe média de Toritama põe os filhos para estudar em Caruaru, a cerca de 40 quilômetros, onde há melhores colégios e faculdade. Toritama possui 16 escolas e somente um hospital municipal. Com infraestrutura precária, não tem saneamento básico.

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